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Os dias mais longos do ano

Desculpa Chronos, mas nunca irei concordar com sua divisão do tempo. Talvez eu seja ignorante demais para compreender o motivos de ser obrigada a suportar dias tão longos que cabem um universo de solidão. Em contrapartida, há dias tão curtos onde é impossível domar as horas ariscas que escapam entre meus dedos, me tornando incapaz de fazer todas as tarefas indispensáveis. Queria poder doar algumas horas dos intermináveis finais de semanas, dias pesados demais onde o descanso vira prisão.

Nublada

A primeira vez que a vi me encantei por seus olhos cinzentos. Não um cinza óbvio, mas sim escondido nas profundezas do círculos aparentemente castanhos. Ela sorria mostrando quase todos os dentes, mas no fundo das risadas havia uma tristeza secular, nuvens pesadas esperando a oportunidade de fazer chover. Eu queria fazê-la feliz, e realmente acreditava ser capaz. Numa noite abafada, propensa a confissões, ela me disse que sua solidão era pesada demais, e eu não a suportaria. Falei que comigo seria diferente, eu iria dissipar suas nuvens e trazer luz solar. Ela me deu um sorriso triste, e lá no fundo encontrei esperança em seu olhar. Suas tempestades eram intensas, repletas de ventanias de sentimentos reprimidos. No início eu achava até charmosa tanta intensidade, e via como um desafio a ser vencido. Mas ela estava certa. Não suportei sua solidão. Não queria ser mais uma cicatriz em sua pele já calejada. Mas a fiz sangrar, adicionando mais uma dor dentre tantas que ela já s...

Sair do ninho

Sair no ninho é não ter um abraço durante choro, e perceber que as lágrimas são mais cruéis quando em meio à solidão. É ter a oportunidade de recomeçar, construir um novo Eu, e depois de um tempo descobrir que nunca será possível enterrar completamente o passado, por mais longe que ele esteja. É comer miojo, ovo cozido, enlatados, e se sentir um Master Chef. É lavar pouca louça e nunca ter outra xícara sobre a mesa. É confiar desconfiando de todos. Não saber em quem acreditar. Ouvir comentários e tentar decifrar entrelinhas. É ser apunhalada todos os dias, e continuar a luta, mesmo sangrando. É saudade do mar, dos livros, do clima e até do trânsito.  E, apesar de tudo, ter a esperança que a caminhada não é em vão.

Por trás da armadura

Por trás da fachada minuciosamente equilibrada pulsam sentimentos conflitantes e memórias cruéis. Meu discreto sorriso esconde uma alma que já esqueceu o significado da palavra "confiar". Sigo em frente desbravando mares e domando os monstros marinhos que surgem pelo caminho.  Guerreira sou, mas não se engane: Por trás de minha armadura feita de prata e lágrimas há um coração tão frágil quanto o seu.

Agradecimento aos dias nublados

Inicialmente lamentei pelas nuvens acinzentando o céu e escondendo o sol. O vento frio e cortante era convidativo à preguiça e melancolia. A solidão se tornava a cada instante mais presente e sufocante. Não havia como fugir de mim. Dias se passaram e fui me acostumando com minha própria companhia. Aprendendo a olhar no espelho e ver um pouco de beleza e não apenas marcas. Chovia lá fora, mas eu tinha um abrigo. Comecei a arrumar os quartos, organizar livros e papéis, e sem nem perceber já estava revendo planos. Ler, escrever, estudar e refletir. Os dias não são monótonos como parecem. Planejar e executar sonhos é mais trabalhoso do que eu supunha. O som das folhas ao vento relaxa e me lembra que não estou só. Hoje o dia amanheceu ensolarado. Agradeço a luz, mas sem esquecer das nuvens. Sem os dias nublados não daria tanto valor ao sol. Aproveitem os dias nublados!