Pandora colocou seu melhor vestido preto. Enquanto se arrumava para ir ao enterro dava rápidos olhares no corpo estendido na cama ao seu lado. Queria estar deslumbrante, pois seria um momento especial. Quando ficou pronta, e linda, tomou coragem e chegou mais perto da morta que jazia tranquilamente. Olhou com certa melancolia e já com saudade aquele rosto que conhecia tão bem, pois o via todos os dias ao se olhar no espelho. No enterro estava repleto das mais diversas e estranhas figuras. Ali estavam os falsos amigos chorando com odiosa hipocrisia, monstros muito altos e musculosos, que eram os medos de Pandora, homens sensuais e mentirosos indignados por terem perdido a mulher que aplacava a insegurança deles. Pandora derramou uma única lágrima e diante de sua lápide jurou que seria a última. Amanheceu. Pandora acorda e olha pela primeira vez o mundo. Tudo é novo, belo, mas também um tanto assustador. O corpo e rosto são os mesmos, mas sua mente é como um recém nascido...