Fitar meu rosto no espelho era um martírio, não apenas pela aparência refletida, mas pela desesperança estampada no meu olhar. Com inveja via as belas borboletas desbravando caminhos incríveis, viajando por terras só vistas por mim através da tela do computador. Minha casa se transformava pouco a pouco em prisão. A claustrofobia piorava ainda mais quando eu percebia que lá fora as borboletas viviam felizes. Numa manhã aparentemente ordinária nasceram minhas asas. Nada de especial ocorrera, apenas surgiram assim, de repente. Ou talvez já existissem e só naquele momento eu as notei? Até hoje me pergunto. Comecei minha jornada rumo ao infinito. Tentei voar mais alto, porém as asas não eram tão leves quanto imaginava, e logo cansei-me. O mundo era deveras colorido e barulhento, ninguém prestava atenção no ser alado e exausto em que me tornei. Outras borboletas pousaram junto a mim. Vendo-as tão perto notei manchas e cicatrizes em seus corpos, e certa tristeza sutil no olhar. De...