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De volta ao casulo

Fitar meu rosto no espelho era um martírio, não apenas pela aparência refletida, mas pela desesperança estampada no meu olhar. Com inveja via as belas borboletas desbravando caminhos incríveis, viajando por terras só vistas por mim através da tela do computador. Minha casa se transformava pouco a pouco em prisão. A claustrofobia piorava ainda mais quando eu percebia que lá fora as borboletas viviam felizes. Numa manhã aparentemente ordinária nasceram minhas asas. Nada de especial ocorrera, apenas surgiram assim, de repente. Ou talvez já existissem e só naquele momento eu as notei? Até hoje me pergunto. Comecei minha jornada rumo ao infinito. Tentei voar mais alto, porém as asas não eram tão leves quanto imaginava, e logo cansei-me. O mundo era deveras colorido e barulhento, ninguém prestava atenção no ser alado e exausto em que me tornei. Outras borboletas pousaram junto a mim. Vendo-as tão perto notei manchas e cicatrizes em seus corpos, e certa tristeza sutil no olhar. De...

Pássaros - Pc poema everyday

Era um apaixonado por pássaros. Não se tratava de uma admiração, fascínio, mas uma fixação que beirava à insanidade. Passava horas observando esses seres voadores, investia quase todo o salário para tirar as melhores fotografias, sabia as espécies só em ouvir seu canto. Tinha certeza que a roda das encarnações havia quebrado quando sua alma foi endereçada a um corpo humano, pois o destino correto seria em um pássaro. Imaginem então qual a sensação quando nosso amigo acordou e percebeu que não tinha mais braços, e sim asas magníficas! Eu ou você ficaríamos desesperados, imaginando estarmos loucos, mas não ele. Debruçou-se na janela, e sem treino algum, iniciou voo.  Viu um bando no céu e juntou-se a eles. Mas seus amado pássaros não o aceitaram. Mudavam a rota, entoavam horripilantes sons. O homem-pássaro voltou. Percebeu que não bastavam asas para mudar sua natureza. A mudança precisava vir de dentro para fora, e não o contrário. As penas caíram, as asas transformam-se em braç...