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Resenha do livro "Justiça - O que é fazer a coisa certa"


A longa espada é segurada com firmeza em uma das mãos, enquanto na outra uma delicada balança permanece intacta. O tecido em sua face não a perturba, pois Justitia não precisa ver para descobrir que necessitam de sua ajuda. Os humanos estão perdidos, afundados em seus próprios crimes, desesperados por esperança e salvação. Ela ergue a espada, pronta para fazer sentir nas inúmeras peles e peso do metal em busca de sangue redentor. Mas há tantas vozes em desarmonia, cada uma com uma prece distinta, que Justitia precisa retirar a venda que cobre seus olhos. A luz escandaliza sua visão, mas aos poucos surge uma infinidade de cores e formas. Os pratos da balança movem-se, e nenhum acostuma-se ao alto ou ao baixo. E a espada tem não apenas a função de obrigar ao ser utilizada com força, mas também pode conferir uma honraria quando delicadamente encostada no ombro de um guerreiro.

 


Você gostaria de viver em um mundo mais justo? Se fizermos esta pergunta há diferentes grupos de pessoas, certamente a resposta seria afirmativa para a maioria, se não todosos indivíduos. Mas se a busca por justiça parece ser um objetivo universal e atemporal, por que vislumbramos a dignidade humana ser lesada de tantas formas? Por que situações atualmente vistas como absurdas, como tortura e mortes de supostas “bruxas” e o comércio de pessoas como se fossem meros objetos, eram tidas como justas e boas? O livro “Justiça: O que é fazer a coisa certa”, do filósofo Michael J.Sandel traz questionamentos como estes ao tratar das múltiplas facetas do conceito de justiça. Mas não espere respostas prontas, a obra é um convite à reflexão e debate, apontando várias visões sobre o que seria justo através dos tempos, relacionando com questões atuais, tais como cotas em universidades, legalização do aborto, flexibilização de leis trabalhistas.

 

O estilo do autor é envolvente, com linguagem acessível, muito clara e sem jargões. É uma leitura que pode ser bem aproveitada independentemente da formação acadêmica do leitor. Para aqueles que desejem um aprofundamento do tema, o livro traz muitas referências, sendo uma interessante porta de entrada para estudos posteriores. Mas é importante frisar que é uma obra escrita por um autor norte-americano, e apesar de pontuar alguns exemplos e visões de outras culturas, é baseada no contexto ocidental, especialmente norte-americano e europeu. É preciso ir além desse pensamento, analisando os valores que podem ou não ser negociáveis, e levando em consideração que a justiça não é imutável e tampouco é única.

 

·         Justitia ou Iustitia é a deusa romana que representa a justiça.

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Comentários

  1. Infelizmente, nem tudo que é legal é justo. Sua resenha ficou muito boa e atentou para um fato importante, a nacionalidade do escritor, o que requer atenção às diferenças culturais.

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