Mais uma vez me flagro admirando a beleza rude de sua boca entreaberta, como uma dura lembrança dos beijos que nunca serão completamente meus. Sua pele coberta de listras douradas de um sol nascente, sortudo o bastante para aquecer mais seu corpo do que meus abraços. Faixas de ouro, cálidas, faixas de bronze, gélidas. Suas costas nuas, viris, um retrato fiel do quanto a força da beleza pode machucar. Você dorme o sono tranquilo, como só os despreocupados sem alma conseguem. Seu rosto quase infantil contrasta com um corpo que parece ter sido planejado para fazer sofrer. Sua aparição na festa de ontem me fez estremecer. Mesmo depois de quase uma década, te ver vindo em minha direção causou a mesma sensação de quando te via passar pelos portões da Universidade. Eu nunca estive preparada para você, e mais uma vez me deixei ser engolida pelo seu charme, para ser abandonada logo depois. Sempre e sempre, um círculo perfeito de ilusão. Os lençóis pesam toneladas, mas não suficie...