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Mostrando postagens de janeiro, 2016

A cor do sangue

O sangue que escorre de sua carne é escarlate como meu. Mesmo odor e gosto metálico, não é possível distingui-los quando misturados. Mas o sangue que escorre de minha pele negra vem de feridas antigas, que não me lembro, mas ainda doem. as chicotadas deixaram cicatrizes horrendas, mas não me envergonho delas.  Não foi você que me feriu, por isso não o culpo. Apenas peço que entenda minha dor. Não maltrate minha pele, já sensível de tanta tortura. Nosso sangue tem a mesma cor, podemos ser parceiros, amigos, irmãos? *Escrevi para o projeto #pcpoemaeveryday do blog Onça malhada (clique aqui)  . Escolhi o tema racismo. Para ficar mais claro: XD

Pássaros - Pc poema everyday

Era um apaixonado por pássaros. Não se tratava de uma admiração, fascínio, mas uma fixação que beirava à insanidade. Passava horas observando esses seres voadores, investia quase todo o salário para tirar as melhores fotografias, sabia as espécies só em ouvir seu canto. Tinha certeza que a roda das encarnações havia quebrado quando sua alma foi endereçada a um corpo humano, pois o destino correto seria em um pássaro. Imaginem então qual a sensação quando nosso amigo acordou e percebeu que não tinha mais braços, e sim asas magníficas! Eu ou você ficaríamos desesperados, imaginando estarmos loucos, mas não ele. Debruçou-se na janela, e sem treino algum, iniciou voo.  Viu um bando no céu e juntou-se a eles. Mas seus amado pássaros não o aceitaram. Mudavam a rota, entoavam horripilantes sons. O homem-pássaro voltou. Percebeu que não bastavam asas para mudar sua natureza. A mudança precisava vir de dentro para fora, e não o contrário. As penas caíram, as asas transformam-se em braços.

O Talo - PH Poem a week

Não era uma flor especial. Vivia em um jardim com rosas, muito mais coloridas, perfumadas e formosas do que ela. Sofria por ser tão sem graça e nem espinhos ter em seu talo. Suas amigas riam desse detalhe, apontando para seu corpo desprotegido. Uma mão macia surge como que por encanto e toca as belas rosas ao seu lado. Imediatamente apaixona-se por essa mão, mas sabe que é ordinária demais para ser notada. Mas os talos das outras são cheios de afiados espinhos. Eles impedem que sejam levadas e a mão desiste delas e parte para a florzinha de talo liso. Ela se deixa levar, sob os protestos das rosas, indignadas com tamanho desapego às raízes. Não sabe para onde vai, mas a flor está feliz. Percebeu que sua diferença a faria conhecer outros locais. O jardim já não era o bastante para sua felicidade.

Amados calos: #PHpoemaweek

Começo a caminhada, descalça estou. Meus pés delicados apreciam a sensação de liberdade e o carinho da areia sob suas plantas. Penso que não será tão difícil quanto imaginei e já corro feliz, logo chegarei se continuar nesse ritmo. Então surgem pedregulhos. A fina pele sangra me forçando a caminhar cada vez mais lentamente. Cada passo é um martírio e meus pés passam a odiar o caminho que escolhi. Por que nos maltrata? Eles me questionam. Mas não desisto, embora perceba que não será tão fácil como imaginei. A pele já não é tão macia, transforma-se em grossa casca. Calos que aos outros enfeiam meus pés, mas para mim são minha salvação. Já não sangro, minhas pisadas são firmes e mostram ao chão que não o temo. Posso voltar a correr. O sofrimento me calejou, e graças aos meus amados calos posso aguentar a caminhada. Não achei foto melhor, vai essa mesmo #fail P.s: Esse texto foi escrito para o desafio #PHpoemaweek , que vi no blog da Vanessa Chanice( clique aqui) . A